sábado, novembro 25, 2006

As vezes pensamos que aprendemos apenas nas aulas, com os professores. Apesar de que, também entendemos que a leitura enriquece nosso conhecimento. O que falta nossa atenção é, o quanto aprendemos com os amigos, principalmente em debate calorosos - igualmente aquele entre eu e João. Apesar do pressuposto central da opinião dele, confesso que refleti bastante a partir das suas idéias .

Nosso amigo João acredita numa função social e pragmática da História. Seu ódio à pós-modernidade impulsionou-o a formular uma neo-magistra vita, só que sem o conceito de processo, pois eles acreditam num planejamento futuro, não numa relação de causa e conseqüencia. Na visão do João Henrique - e do companheiro Paulo -, quando estudamos o passado, passamos a ter uma nova visão do presente, de forma que, obtemos uma nova possibilidade de planejar o futuro. De acordo com nossos dois companheiros, o sentido da História está em propor um futuro melhor, mais desenvolvido e, sobretudo mais humano.

Obviamente, a História pós-moderna precisa ser criticada. A fragmentação do nosso objeto e a excessiva flexibilização metodológica são pontos sensíveis dessa versão de história. O descrédito à identidade do historiador e a idéia obcessiva de transdiciplinaridade precisam ser questionadas, uma vez que não é apenas o historiador que deixa de ter uma identidade, mas também a própria História como ciência, pois, esta não necessita da metodologia histórica para produção do seu trabalho, mas sim, de uma mesclagem entre as outras disciplinas, de forma que não seja mais História.

Contudo, questiono a forma que nossos dois amigos estão atacando a História pós-moderna. O que identifico no discurso deles é uma História totalmente ligada a noção de progresso. Essa visão foi bastante decorrente até a década de 60, sendo que os cientistas (sociais ou não) acreditavam que a ciência transformariam o mundo por completo. Isso não ocorreu. É claro que muita coisa melhorou, mas essencialmente, continuamos os mesmos humanóides desprezíveis de sempre.

Quando os historiadores João Henrique e Paulo Santana propõe uma história serviço do futuro, eles caem no mesmo erro da História pós-moderna: a intensa fragmentação do objeto. Se você pensa em fazer um projeto de desenvolvimento para o país a partir da História, você estudará apenas o que interessa. Ou seja, se é um projeto de desenvolvimento do Brasil, para quê estudar a Grécia pré-heródoto ou, qual a utilidade de estudar sobre um moleiro herege da Itália do sec XVI? Isso não tem ligação nenhuma com o desenvolvimento do nosso país, embora nossos queridos amigos possam frazer uma belíssima "eixegese retórica" que enquadre esses assuntos na palta para o desenvolvimento da nação. Porém, ao fazê-lo, eles seriam anacrônicos. Além disso, partiriam para a pesquisa com uma formulação teórica pronta - o que isso tem a ver com o nosso desenvolvimento.

Não estou dizendo que a História não pode servir a nação. É claro que sim. Mas insisto em dizer que esta não é sua função primordial. Se esse fosse o sentido da História, esta ciência seria muito limitada e local, lembrando que a realidade passada diversas vezes (pra não dizer nunca) é diferente do presente, de forma que você projetaria o futuro baseando-se em realidade discrepantes. Por exemplo, se alguém estuda o golpe militar de 1964 para evitar um possível futuro golpe, o contexto passado não serviria de base para o futuro, pois são realidade discrepantes. Aquilo que aconteceu em 64 só ocorreu pelo contexto favorável, sendo este único e irepetitível. A não ser que nossos amigos João Henrique e Paulo Santana tenham a visão de circularidade temporal.

Não penso como antes, e isso devo em partes ao João e ao Paulo. A História tem sim um sentido. Não concordo com o Michael Foucalt que pensava esse sentido como algo relativo e subjetivo. O sentido da História está na construção e compreenção do seu objeto: o ser humano. Ou seja, a função da História está em compreender melhor a humanidade (através do tempo). Contudo, isso pode assumir qualquer função pragmática - ou nenhuma. Nesse ponto, isso vai depender do que estamos estudando.

Bom, espero não ter ofendido ninguém. Desde já peço desculpas se exagerei em algum ponto. Quero discutir sem envolver ataques pessoais.

Espero uma réplica.

Um grande abraço.


obs.: O texto não foi revisado. Pode haver vários erros ortográficos ou de concordância


5 comentários:

Luiz Fernando disse...

Seu Gú!!! Que texto MA-RA-VI-LHO-SO!!! Assino em baixo de tudo que voce falou.
O João Henrique questiona e desce o pau na Pós Modernidade. Mas será que ela só trouxe coisas ruins ao Homem?
Para mim, a pós modernidade marca o momento de ruptura do sujeito com ele mesmo. Sim, com a pós modernidade o Homem pode questionar as antigas tradições, que ele foi "obrigado" a seguir sem saber porque. A pós modernidade permite o sujeito ter mais autonomia. Isso começa no período do renascimento, quando se questionou a necessidade de um ser intermediário entre Deus e o Homem, entre A palavra e a exegese. Além do mais, eu posso escolher ser ou não ser religioso, sem sofrer críticas por isso (a não ser quando se tem o João Henrique por perto). Eu posso seguir ou não os dogmas que bem entender, não sou sufocado pelas instituições que outrora desejaram e tinham poder para dominar a mente do Homem e ditar o que é certo ou errado.
E a arte pós moderna? O que tem de errado em deslocar o sujeito da arte? Com a pós modernidade, o sentido fica a cabo do observador. Ele é o criador de sentido para o que ele vê! Arte passa a ter vários sentidos. O observador que escolhe. O teatro-do-absurdo,criado por Eugene Lonesco, rompe com as barreiras impostas pelas escolas cênicas até então. Porque não falar de costas para o público? Porque não começar um espetáculo do meio da platéia? Será que precisamos erguer um muro entre artista e telespectador? A dança contemporânea tambem rompe com o balé clássico, incorporando ritmos e valores das culturas locais, tirando as sapatilhas das bailarinas e até mesmo deixando de lado a estética: o que importa é a transmissão de sentimentos, idéias!!! O QUE TEM DE ERRADO NESTA ARTE, GENTE???!!!
Tentei aqui mostrar que pelo menos pra mim, a pós modernidade representa não só coisas ruins. Como historiador, talvez tenhamos que filtrar melhor o que podemos aproveitar dela, mas jamais duvidar que coisas boas também foram trazidas por ares pós modernos.

GB Silva disse...

Dalhe dalhe truta mestre Luiz. Essa questão da autonomia da sujeito e do questionamento do progresso são pontos chave da pós-modernidade.

Vc esqueceu de falar sobre teatro pos-moderno. É bem legal tb.

Vamos ver a réplica do João (preferiria que fosse um post ao invez de um comentário).

Paulo Vinicius disse...

Realmente ficou maravilhoso. A intenção é essa mesmo, maravilhar. Ludibriar, ENGANAR, estas são as intenções de um autor quanto quer apenas "comvencer" seu leitor.
Acredito em posturas firmes a respeito da ciência e não adimito que um historiador se porte como um artista. Vivemos num ambiente controlado onde a única coisa que podemos é nossa postura frente as injustiças do mundo. Porque história, a nossa ciencia, é isso pra mim, fazer justiça ao passado. Não que essa justiça redima os erros, nem que ela preveja os futuros, mas que funcione como forma de esclarecimento, esclarecimento que ensine a viver. Sim, sou a favor de uma História para vida. Não uma vida de dependencia, não uma vida de revoluções do proletariado. Uma vida de sabedoria que ensine sim aos do presente com os erros do passado. Mas um ensinar por justiça, não um ensinar por projeto. Não somos cartomantes que vivem de falácia, somos cientistas e vivemos de ciencia. E tomando emprestado a palavra de uma sábia professora nossa "se uma coisa não tem função, se não serve pra nada então ela não existe."

GB Silva disse...

[Paulo]
Clap clap clap clap!

Parabens! Tirando a parte que me toca, seu texto está ótimo. Vc sabe meu querido, eu sempre fui contra as metodologias pos-modernas da Historia. Não entendo pq vc está citando isso. A Ciencia Historica tem sua identidade propria e necessita de suas teorias e metodologias proprias.

Pra mim, exatamente esse exclarecimento que insita a vida que é o sentido da História. Mas meu caro, isso não é pragmatismo, porém, contemplativo. Quando olho para a História posso vislumbrar uma humanidade diferente e conhecer a minha sociedade atual.

Contudo, meu grande companheiro de kooper na UFV, a reflexão do passado não traz necessariamente (como pensa nosso querido João) a possibilidade de resolução dos problemas do presente. Isso PODE ou NÃO ocorrer.

O João diz que esse é o sentido da História: evocar o passado para resolver os problemas do presente e propor um novo futuro. Ao dizer isso, ele afirma que quando vc estuda qualquer sociedade em qualquer parte do mundo e em qualquer época, necessariamente vai ter utilidade aqui, para nosso país.

SERÁ?

jhfcastro disse...

Mais uma vez Gustavo. Tudo depende do que se busca entender.