Sobre o
atraso de vida que é acompanhar delirantemente o futebol, ou 10
sintomas da “Síndrome do Torcedor Aborrecido”
Todo
mundo conhece aqueles pés-no-s@c* que costumam viver
ensandecidamente para alguma coisa. Aliás, todo mundo costuma
carregar na importância daquilo que ele acha que é o motivo da sua
vida. Várias pessoas apontam como motivo uma vida monótona, sem
muitas aventuras, ou seja, a vida de um homo sapiens de idade
avançada com problemas para segurar a urina em sua bexiga e que
deixa o rastro de mijo pelo caminho. Nada contra as pessoas idosas.
Acho inclusive que devemos muito a elas. O respeito ao que já
fizeram e ao conhecimento que detém, historias de vida e a vivência
de situações que nem sonhamos que aconteça... coisas que nós
jovens nem sequer somos capazes de imaginar, pois somos, em nossa
maioria desprovido de imaginação. Enfim, voltando aos trilhos,
glorifico os idosos, mas detesto aqueles que antecipam os sintomas da
idade avançada por meio de opiniões ultrapassadas e desprovidas de
vivência que as habilite para isso. Esse é o verdadeiro motivo
daqueles que tendo um passatempo o torna uma coisa incômoda para as
pessoas que o cercam. Não falo de jogar damas, o bom e velho
carteado, muito menos a bocha, ou ainda a tão criminalizada, mas a
meu ver tão louvável fofoca. Falo dos “torcedores de futebol
profissionais”. Tentar saber tudo sobre seu time, ou ainda segui-lo
como um bom fã, nada contra. Agora, se ao olhar para o espelho e
perceber algumas destas características, as características da
“Síndrome do Torcedor Aborrecido”, não procure um médico,
procure sua vergonha na cara, leve seu desconfiômetro para ser
calibrado em uma loja de humildade e, principalmente, busque ajuda
com os seus amigos que, sem sombra de dúvida, sentem-se incomodados
com a sua presença pouco amistosa.
1 –
Está vestindo a camisa do seu time depois da derrota, ou mesmo
naqueles dias que a temporada ainda nem começou? Cuidado, é o
primeiro e menos agressivo dos sintomas.
2 –
Conta as camisas dos outros times na rua. Mesmo que não se tratem de
adversários regionais, ou mesmo que você esteja lá embaixo da
tabela e eles lá em cima. Perde tempo com isso? Eu perco só se me
render uma piada que pelo menos faça apenas eu me divertir.
3 –
Ridiculamente sua torcida entra no estádio e xinga, com palavreado
de baixo calão, a torcida regional, sua maior adversária, mesmo que
não seja ela o adversário do dia. Se você achar tudo isso muito
lindo sua mãe não deve ter te educado direito. Aliás, ele
obviamente te educou direito, você que é uma mula que não aprende.
4 –
Vamos para o estádio. É lá que vale a pena assistir um jogo de
futebol. Aquelas cadeiras de plástico são confortáveis, a comida é
boa e barata, a cerveja sem álcool muito melhor que a normal,
torcida organizada é uma fonte de simpatia, o ângulo que vejo o
jogo, sempre o mesmo, me satisfaz enormemente... Acho que não
preciso dizer mais nada.
5 –
Assiste o jogo em bares onde só tem minha torcida. Outro ambiente
desagradável: Cerveja cara, gritos ensurdecedores, catinga de macho,
e ainda te cobram pela maldita TV de gigante de tela plana que, pela
distância, perde até pra 15 polegadas aqui da sala.
6 –
Abdicação de outros prazeres da vida. Tipo a esposa, os filhos, a
namorada, os amigos que torcem para outros times, ou até mesmo seu
cachorrinho de estimação. Babaquice com todo mundo, inclusive com o
Totó.
7 –
Filiação em um daqueles grupos animadíssimos e pacatos chamados
Torcidas Organizadas. Existem algumas que de fato cumprem um papel
interessante ao defender boas práticas entre seus integrantes, como
a Flamanguaça. Agora pela minha experiência pessoal, torcida
organizada só serve para torrar a paciência das famílias que vão
ao estádio, das pessoas que moram nas cercanias, e combinarem
verdadeiras lutas campais.
8 –
Sabe a escalação do seu time, mas não sabe o nome do ator que faz
aquele moleque sentado na cadeira do barbeiro (Edie Murph) quando o
príncipe africano (Edie Murph) entra na barbearia pela primeira vez
em “Um Príncipe em Nova York? Sitando aquela desiludida
adolescente: “Puta falta de sacanagem.”
9 – Tem
mais quadros comemorativos, lembrancinhas infantis, faixas com
escritas como “Eu vou para Dubai, ou ainda bandanas com os mesmos
dizeres, em número maior do que fotos de sua família em seu quarto?
Menino feio. Assim a mamãe vai puxar sua orelha.
10 –
Teorias toscas de conspiração. Aquele que considero o mais grave de
todos os sintomas. Por exemplo a boa e velha culpa da TV aberta pelo
tamanho das torcidas, ou a cisma com a arbitragem, ou a presença de
Ets da cor de times adversários em sua cidade, ou ainda a eterna
gerra santa contra torcedores de times de fora do estado em que
nasceram. Um mineiro não pode, nesta concepção ilógica torcer
pelo Mengão, ou pelo Fogão... É falta de patriotismo. Sejamos
sinceros, [essa piada não é minha] os times de nosso digníssimo
estado deveriam ir para o Chile. Lá eles se mostraram muito
eficientes em tirar mineiros do buraco.
Enfim, se você tem um
amigo, mas um amigo mesmo, não aqueles que merecem distância, e
acha que ele desenvolveu a “Síndrome do Torcedor Aborrecido”
peça que ele procure ajuda.