domingo, outubro 02, 2011

Academia, teatro e muita hipocrisia

Vamos aos fatos, aliás, somos “historiadores”. Nos achamos pessoas importantes por isso. Vamos a uma análise que é pretensamente metódica, aparentemente científica e esteticamente confiante.

Posso falar muito pouco das pesquisas em outras áreas, mas acho que dar pitaco sobre a área de humanas não é um contrassenso. Além do mais pouco me importa o que digam a respeito de eu não ter capacidade, ou autoridade para isso. Se ficar insatisfeito com o que lerá nas próximas linhas reclame com Deus, com a mamãe, ou com a vovozinha que te criou esse frango de granja.

O processo de trabalho científico ocorre da seguinte forma, percorrendo os 5 passos para a glorificação de uma respeitada pesquisa:

1 – Aproximação:
Você tem que se destacar. São variadas as formas de destaque. Destaquemos 3:
1 – Competência
Você é capaz de obter resultados seja pelos seus talentos, seja pelo seu esforço)
2 – Q. I.:
Você é capaz de obter resultados por meio de sua rede social. Alguém fala pra alguém que você é capaz.
3 – Puchassaquismo:
Você é incompetente e consegue se aproximar da fina nata da pesquisa por meio de elogios e servidão aparentemente despretensiosa. (disparadamente o mais utilizado)

2 – Servidão com segundas intenções:
Depois que você ascende aos níveis um pouco mais altos e já arrota caviar, ainda que coma 'mortadela', começa trabalhar de forma pouco sistemática, mas ainda sem remuneração. É um estágio de vivência. Sofrimento, falta de tempo e a mesma pindaíba de antes são as constantes, ou como mencionamos no post anterior “tradições” deste momento.

3 – Aculturação:
Agora você não só trabalha, mas faz parte de um grupo que pesquisa a mesma temática. Por questões de sobrevivência não só os textos que lê e as fontes são as mesmas, o seu comportamento também se modifica. Músicas, programas de televisão, bares... Num nível muito tênue um pouco de você é subjugado para que comportamentos alienígenas sejam adotados.

4 – Adoção da Facção:
É chegada então a fase mais agressiva de desenvolvimento. Agora o graduando recebe para trabalhar, bolsista. O Velho Barbudo erra, mas dá umas dentro de vez em quando. Você faz parte de uma facção. Um grupo sólido onde os indivíduos perdem sua individualidade. Você não é mais você. Agora há uma concorrência desleal entre o seu eu honesto e o seu eu pesquisador, ávido por muitas coisas, dentre elas realização profissional a quase qualquer custo. E esse seu novo eu, forjado nas experiências recentes, considera que o mundo deve perecer ante os outros. Os pesquisadores de outras temáticas, e inclusive seus amigos, os outros temas e fontes, os outros professores, enfim, toda sorte de outros não ligados diretamente a seu grupo não são vistos só como concorrentes, mas também como inimigos, ainda que não em atitude propriamente bélica.

5 – Exemplo:
O último estágio é atingido quando o sujeito já galgou todos os níveis anteriores. Cada degrau comporta uma quantidade menor de indivíduos e desta forma só alguns chegam alto o bastante para servirem de exemplo de transformação. Agora sua imagem funciona como a de um caminho a ser seguido. Outros miram em você. Aquele que um dia já foi diferente neste momento não passa de uma memória passada, que será reinventada para que a trajetória vencedora faça sentido.


Não encaro este processo como algo danoso. Praticamente todos as outras dinâmicas da vida ocorrem da mesma forma. Nem pensem que é tudo preto no branco como foi pintado. A realidade, na imensa maioria das vezes é cinza. Entender faz parte da experiência da vida.