As historias começam em momentos aleatórios e prosseguem em dinâmicas lógicas quando dentro de nossas cabeças os processos são completamente diferentes. Vejam por exemplo suas lembranças de infância relativas a um tema específico. Pensemos no cinema. não o cinema enquanto local onde se vê filmes. Para além disso. Pense no motivo de sua presença nestas salas coletivas em que a sétima arte é exposta para pessoas de diversas origens e presentes estimulados por motivações diferentes.
Lembro primeiramente de um dos filmes que mais marcou minha Infância: Os Gonies. Estava eu e meu irmão, na sala de nossa avó, que também era meu quarto… Mas não era mais meu quarto. Larissa e Talita insistiam que o Léo não teve infância completa se não havia visto Os Gonies. Como meu precário quarto se torou uma reta de uma faculdade? Lá estava eu e uns amigos 15 anos depois discutindo um símbolo da tenra idade de muita gente. E nesta idade via filmes diferentes com companhias diferentes. Hamlet foi um mistério que degustei com Luiz Fernando e Gustavo num quarto apertado. O Mel Gibson não devia ter feito este filme. Em frente a um DVD no ano de 2004 não tinha muitas opções cinematográficas ao meu dispor. Horas e horas de trabalho árduo não foram recompensados com a aprovação no vestibular. Chutar o pau da barraca… Pelo menos por seis meses era isso que merecia. E o filme estrelado por Mel Gibson era o único de ação que a disposição de um balconista foi capaz de assistir. Franco Zefireli já foi mais brilhante e eu não fazia a menor ideia. O filme era podre aos meus olhos. Mas o que me diz de podre do pobre Ashton Kutcher. O pobre coitado fez duas coisas sábia na vida: Efeito Borboleta e casar-se Com a Demi More. E nas vésperas de iniciar a graduação em História apenas Jonathan [meu primo] e Diogo [irmão do meio] acompanharam-me numas das primeiras jornadas intelecto cinematográficas que fui capar de refletir sobre. É isso que universitários fazem: descobrem algo que gostam e transformam num raciocínio lógico. As coisas não podem mais ser prazerosas depois deste estagio intelectual. E minha sala [outra sala, outra casa, acho que a décima primeira do casamento de meus pais] não0 era mais minha. Estava cercado por amigos instantâneos. Felipe, Melissa, Yuri, Mônica, Elizandra, Josélia, Thuila… tudo gira e no meio do turbilhão a compreensão sobre o mesmo filme já não era a mesma. Cada fala, cada ato ou efeito visual era acompanhado de um comentário [verbalizado ou não] tendendo à pura historização da percepção das mudanças de tempo. Porque voltando à infância, os desenhos sempre foram meus fiéis companheiros. E sozinho, aqui no meu quarto confortável, mas sem muito luxo ou organização, na capital percebi que a imagem que criamos de nós mesmos e dos outros é que são as tais Representações do Chartier. Obrigado Evangellion. Agels e EVAs não significam muita coisa pra muita gente que ignora um dos melhores roteiros já escritos. E o que sou eu senão a combinação de minhas vivências. Porque o Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças não é apenas uma comédia romântica. E novamente na sala humilde da casa ao fim de um morro, numa área periférica de Manhumirim, um recente chato [leia-se historiador em treinamento] aproveitava seu tempo com coisas mais úteis do que textos de história. Cadência inusitada, recorte aparentemente aleatório, as caretas caricatas de Jim Carrey e as curvas sensuais de Kate Winslet me levam a outro lugar, dois finais de semanas consecutivos, dois anos depois numa sala/cozinha, com almofadas no chão. Era ver o filme, assistir ao clipe com a musica tema [Light and Day – The Polyphonic Spree], composto de cenas do mesmo filme, só que com os lábios dos atores alterados acompanhando a letra da canção, e ir ao Shopping tomar uma cerveja. Na verdade saímos eu e Larissa os dois domingos consecutivos e as outra companhias que se alteraram. E se alteraram tanto que não era mais o shopping do calçadão de viçosa, mas uma sala com uma garrafa de cachaça. E era 2010. Eu e Gusthavo discutíamos, do alto de nossa intelectualidade pouco pratica adquirida com os poucos anos de estudo, à respeito da trilha sonora do mesmo filme. Um comentário marginal. O interesse novo era Sonhando Acordado [ou The Science of Sleep no original] do mesmo diretor [Michel Gondry]. Gael Garcia Bernal saindo-se bem. Melhor do que em Diários de Motocicleta que foi um filme tipo exportação. CARAMBA, ESQUECI MEU CHÁ. COMO ESQUECI DELE EM CIMA DA MESA? E o Cine Clube Carcará completamente lotado fez meus olhos de calouro, tão acostumados as aglomerações de meia dúzia de pessoas, comuns em cidades pequenas, saltarem e se assustarem com o mundo que acabara de conhecer. Um mundo de pilastras [e pilantras], retas [e curvas etílicas], RUs [e filas quilométricas], BBTs [e minissaias pelas escadas] PVB e PVA [além do DAH], entorpecentes [lícitos ou não]…
Que as lembranças perdem o fôlego no meio desta confusão. O poder do vinho já diminui num nível insuportável e o calmante demonstra seus poderes obscuros e tão desejáveis em certos momentos. Já se aproxima uma da madrugada. Boa noite.