sábado, janeiro 08, 2011

Speculum compositum Alice I

 

As historias começam em momentos aleatórios e prosseguem em dinâmicas lógicas quando dentro de nossas cabeças os processos são completamente diferentes. Vejam por exemplo suas lembranças de infância relativas a um tema específico. Pensemos no cinema. não o cinema enquanto local onde se vê filmes. Para além disso. Pense no motivo de sua presença nestas salas coletivas em que a sétima arte é exposta para pessoas de diversas origens e presentes estimulados por motivações diferentes.

Lembro primeiramente de um dos filmes que mais marcou minha Infância: Os Gonies. Estava eu e meu irmão, na sala de nossa avó, que também era meu quarto… Mas não era mais meu quarto. Larissa e Talita insistiam que o Léo não teve infância completa se não havia visto Os Gonies. Como meu precário quarto se torou uma reta de uma faculdade? Lá estava eu e uns amigos 15 anos depois discutindo um símbolo da tenra idade de muita gente. E nesta idade via filmes diferentes com companhias diferentes. Hamlet foi um mistério que degustei com Luiz Fernando e Gustavo num quarto apertado. O Mel Gibson não devia ter feito este filme. Em frente a um DVD no ano de 2004 não tinha muitas opções cinematográficas ao meu dispor. Horas e horas de trabalho árduo não foram recompensados com a aprovação no vestibular. Chutar o pau da barraca… Pelo menos por seis meses era isso que merecia. E o filme estrelado por Mel Gibson era o único de ação que a disposição de um balconista foi capaz de assistir. Franco Zefireli já foi mais brilhante e eu não fazia a menor ideia. O filme era podre aos meus olhos. Mas o que me diz de podre do pobre Ashton Kutcher. O pobre coitado fez duas coisas sábia na vida: Efeito Borboleta e casar-se Com a Demi More. E nas vésperas de iniciar a graduação em História apenas Jonathan [meu primo] e Diogo [irmão do meio] acompanharam-me numas das primeiras jornadas intelecto cinematográficas que fui capar de refletir sobre. É isso que universitários fazem: descobrem algo que gostam e transformam num raciocínio lógico. As coisas não podem mais ser prazerosas depois deste estagio intelectual. E minha sala [outra sala, outra casa, acho que a décima primeira do casamento de meus pais] não0 era mais minha. Estava cercado por amigos instantâneos. Felipe, Melissa, Yuri, Mônica, Elizandra, Josélia, Thuila… tudo gira e no meio do turbilhão a compreensão sobre o mesmo filme já não era a mesma. Cada fala, cada ato ou efeito visual era acompanhado de um comentário [verbalizado ou não] tendendo à pura historização da percepção das mudanças de tempo. Porque voltando à infância, os desenhos sempre foram meus fiéis companheiros. E sozinho, aqui no meu quarto confortável, mas sem muito luxo ou organização, na capital percebi que a imagem que criamos de nós mesmos e dos outros é que são as tais Representações do Chartier. Obrigado Evangellion. Agels e EVAs não significam muita coisa pra muita gente que ignora um dos melhores roteiros já escritos. E o que sou eu senão a combinação de minhas vivências. Porque  o Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças não é apenas uma comédia romântica. E novamente na sala humilde da casa ao fim de um morro, numa área periférica de Manhumirim, um recente chato [leia-se historiador em treinamento] aproveitava seu tempo com coisas mais úteis do que textos de história. Cadência inusitada, recorte aparentemente aleatório, as caretas caricatas de Jim Carrey e as curvas sensuais de Kate Winslet me levam a outro lugar, dois finais de semanas consecutivos, dois anos depois numa sala/cozinha, com almofadas no chão. Era ver o filme, assistir ao clipe com a musica tema [Light and Day – The Polyphonic Spree], composto de cenas do mesmo filme, só que com os lábios dos atores alterados acompanhando a letra da canção, e ir ao Shopping tomar uma cerveja. Na verdade saímos eu e Larissa os dois domingos consecutivos e as outra companhias que se alteraram. E se alteraram tanto que não era mais o shopping do calçadão de viçosa, mas uma sala com uma garrafa de cachaça. E era 2010. Eu e Gusthavo discutíamos, do alto de nossa intelectualidade pouco pratica adquirida com os poucos anos de estudo, à respeito da trilha sonora do mesmo filme. Um comentário marginal. O interesse novo era Sonhando Acordado [ou The Science of Sleep no original] do mesmo diretor [Michel Gondry]. Gael Garcia Bernal saindo-se bem. Melhor do que em Diários de Motocicleta que foi um filme tipo exportação. CARAMBA, ESQUECI MEU CHÁ. COMO ESQUECI DELE EM CIMA DA MESA? E o Cine Clube Carcará completamente lotado fez meus olhos de calouro, tão acostumados as aglomerações de meia dúzia de pessoas, comuns em cidades pequenas, saltarem e se assustarem com o mundo que acabara de conhecer. Um mundo de pilastras [e pilantras], retas [e curvas etílicas], RUs [e filas quilométricas], BBTs [e minissaias pelas escadas] PVB e PVA [além do DAH], entorpecentes [lícitos ou não]…

Que as lembranças perdem o fôlego no meio desta confusão. O poder do vinho já diminui num nível insuportável e o calmante demonstra seus poderes obscuros e tão desejáveis em certos momentos. Já se aproxima uma da madrugada. Boa noite.

quarta-feira, janeiro 05, 2011

Onde põe título nesta bagaça?

Também estava pensando aqui em casa, também sozinho em Juiz de Fora. Na mesma onda saudosista que move este blog (leia-se Paulo e eu), lembrei-me de duas boas histórias vividas com o elemento manhumirítico da Panela. Vou contar a primeira delas, e deixar a outra para o próximo post. Mudei de ideia. Vou contar tudo aqui.

A primeira ocasião é por nós lembrada como a festa brega da Vila em que ficamos trêbados, ocorrida em outubro de 2008. Tinha prometido pra panela feminina que eu iria na festa, já que a de 2006 foi muito bruta, e na de 2007 só compareci pra emprestar o som. Estava exausto naquela semana, cheguei em casa tarde naquela sexta feira, mas como ja tinha conseguido o traje, me vesti e resolvi ir.


Pra mim, as festas bregas são as melhores. Primeiro porque só o ato de se vestir ja é divertido. Sair na rua rumo à festa então, é simplesmente uma experiência cênica única. Depois de muitas gargalhadas em casa, na república, tomei as ruas com um rayban á meia noite e quinze, rumo à Vila. Passei pela praça, chamando a atenção de quem transitava por aquelas horas em Viçosa. Vestia uma camisa vermelha, de botões, bermuda do exército e coturno. Pra dar um brilho da vestimenta, usava um cordão que mais parecia uma medalha e os já citados óculos escuros.


Chegando na festa, fui recebido pelos amigos, que imediatamente me batizaram de Zé Mayer devido a semelhança da minha vestimenta com o personagem da novela "A Favorita" (vide foto). Cheguei tarde, mas tava todo mundo lá, Gustavo Geada, que a muito tempo não aparecia em festa nenhuma, já num nível etílitico evoluido, como de costume; Paulo Santana, vestido como um cafetão, Letícia, James, e uma boa galera da turma. Bebi aos longos goles pra alcançar a vibe da galera, mas acho que passei dela. Tanto que nem lembro do final.

Mas aproveitando o embalo do assunto festas, vou falar do final de outra festa, acontecida no fim do melhor ano da Panela, em dezembro de 2007. A tal da festa do pijama. Não apareceu quase ninguem conhecido, e teve gente que nem à caráter foi, como eu. Mas em compensação, teve gente que foi a caráter assistir aula no PVB. O elemento sofreu diversas ofensas dos colegas por tal atitude. Puro preconceito, como ele afirmava. De lá, fomos pra festa na vila.

Paulo e eu ficamos responsáveis pela lista de presença (até hoje não entendo pra que esse raio de lista serviu), anotando quem entrava e quem saía da festa. Lá pelas tantas, depois de divesas goles e copos virados em apostas, atingimos o nirvana etílico e começamos a brincar de assinar as folhas de papel que nos deram. Não satisteitos, assinavamos e selávamos a assinatura, como num cartório, jogando cerveja quente em cima.



Repare que na foto abaixo, a camisa da Escola Estadual de Manhumirim está molhada. Dá pra imaginar a lambança, o cheiro de cerveja em nossas roupas e pelo chão do pátio. Eu bebi tanto, que comecei a passar mal e pedi pras donas da casa deixarem eu tirar um cochilo rápido. [Aliás, vamos abrir parenteses, ou se preferir, colchetes, para lembrar de outra festa. Essa de tirar um cochilo rapido quando estou bêbado já me fudeu mais de uma vez. Numa festinha que teve la em casa, onde todo mundo ia pegar as vizinhas mas ninguem pegou ninguem, eu bebi demais e fui dormir na metade da festa. Me reviraram no colchão pela madrugada, mas só acordei no outro dia, com meu fiel escudeiro Paulo Santana dormindo num colchão ao pé da cama. Voltemos pra festa do pijama].

Neste cochilo rápido, a história se passou como na festa da minha casa. Só acordei no outro dia , com o Paulo ao pé da cama. Cama alias, que era de uma das meninas, fato este que obrigou duas delas dormirem juntas, numa cama de casal, uma virada pra cima e outra pra baixo, pra não ter perigo de rolar uma encoxada involuntária na madrugada. Noite traumatizante pra todo mundo.

Outra ocasião etílica digna de ser rememorada foi em nossa formatura, em julho de 2009. 1 semana inteira de festa, bebendo todos dos dias. PV ja morava em BH, e chegou em Viçosa na terça de noite, para irmos às atividades da formatura na quarta feira. Na terça, ele chegou em meio à um churrasco na casa do Wanei. Bebemos até o fiofó fazer bico e no outro dia, acordamos cedo pra ir na aula da saudade. Fomos tomar café na padaria, e ao sentar no balcão, nos deparamos com uma chopeira da Kaiser. Com a boca salivando e a conciencia assumindo seu lado mais impulsivo, decidimos por realizar um antigo sonho: beber de manhã, em dia de semana. Desde a época em que fizemos um trabalho de estágio no Anglo, e quase sentamos no shopping do Bahamas pra beber uma cerveja numa segunda feira as 9 horas, tinhamos aquela ambição de pingaiada. Pedimos 2 chopps, mas infelizmente a merda da máquina não estava funcionando. Comemos, juntamos o que tinha de vergonha na cara, e fomos pra universidade. Foi neste mesmo dia, depois do churrasco no Recanto de tarde, de um estica até o Leão no começo da noite, que o Paulo quase entrou em piripaque de tanto tomar energético na festa no Galpão.

Boas memórias etílicas. Em breve tem mais. Ainda tem o caso da mijada na cadeia em Mariana. Abraços.

terça-feira, janeiro 04, 2011

Mais uma história nada engraçada…

Estava pensando aqui em casa. Sozinho em Belo Horizonte. A solidão estimula os pensamentos saudosistas em função da rememoração de momentos que estávamos cercados de amigos. Pois agora me encontro cercado de confusões dissertativas e uma viagem para o passado no sentido de buscar momentos de confraternização etílica é uma necessidade da manutenção de minha cada vez mais reduzida sanidade.

Chatices e discursos emocionados à parte gosto de lembrar dos momentos de felicidade espontânea. Aqueles que a gente não programa e se auto-geram por meio de coincidências que fogem da nossa capacidade de compreender.

Era uma bebedeira qualquer, de um dia qualquer. Saímos eu e parte da panela feminina: Larissa, Talita e Amanda (Agregada da panela feminina). Nada de mais. Fomos no Shopping da Moda pra aproveitar mais um Domingo pouco produtivo. Como de Praxe fui à casa das meninas para buscá-las. Nada de cavalheirismo nesse ato. Nunca gostei de pessoas que se atrasam. Como todo mundo vive se atrasando, e mulheres são tendenciosamente mais atrasadas devido a questões que fogem a essa postagem, busquei as senhoritas em sua residência. De fato não era nenhum sacrifício. Gostava de andar pelo balaústre. De passar pelo cruzamento com a rua do Leão. E me agradava muito uma conversa sempre bem humorada. As conversas sempre foram bem humoradas com elas. Podia utilizar de todo meu aparato de insatisfação com a humanidade (misantropia) e levar os temas mais absurdos à pauta com uma argumentação inusitada e cheia de pompa acadêmica. Chegando lá obviamente nenhuma das três damas estavam pronta. A conversa desenvolveu-se fragmentada e desconexa até que o trio finalizou seus preparativos para o consumo de uma bebida alcoólica proveniente da cevada. Também conhecida como cerveja esse líquido já havia nos proporcionado momentos memoráveis.

O caminho até o lugar escolhido como fornecedor de embriaguez não era longo. Nada que dez minutos de uma leve caminhada, passando pelo Calçadão de Viçosa, que sucedia a Matriz, não resolvesse. Estávamos lá. Um “músico” careca e cabeludo tocava um violão. Nada de muito espantoso. Consumimos cervejas ao gosto das mulheres. Uma bela série de “Skols” regaram a conversa.

Enquanto bebíamos o liquido em cor de urina conversávamos à respeito do futuro. De como estaríamos daí um ano. Era o último ano de faculdade pra mim. Esse assunto me incomodava mais do que qualquer outra coisa. No entanto à medida que o tempo passava, e a gradação alcoólica no sangue se alterava, não importava mais o assunto. Nesses momentos, os momentos que realmente importam, as palavras não fazem mais sentido. A significância destes ultrapassa qualquer verbalização, ou pensamento, ou filosofia. São apenas sentimentos, e agora lembranças, que não tem nome, mas tem registro. E em algum lugar, de alguma forma, tornam-se atemporais pois voltar a eles torna-se um prazer melhor do que viver o presente.

Mas nem tudo é um mar de rosas quando se trata dos amigos. Pior ainda. As situações mais memoráveis são aquelas que envolvem desventuras e rupturas com relação ao pacto consuetudinário da amizade entre as pessoas. E foi isso que aconteceu. Mas antes da descrição desse fato altamente repudiável, no entanto pleno se tratando de um fato a ser contado em uma história, vale lembrar que já havíamos pedido uma música para o intrépido violeiro: Primeiros Erros (Kiko Zambianqui). O pedido foi feito por mim e pela Larissa. Ambos já não muito sóbrios. Nós dois éramos os com uma aparência mais alcoolizada e a fama de nossos hábitos ébrios adentrava inclusive no círculo dos professores do curso de História. Pedimos e o menestrel, apesar de relutante, atendeu a nossa reivindicação. Não sei se ele estava desafinado de voz ou de violão, só sei que não me recordo com boa avaliação de sua interpretação hesitante e estilhaçada. De qualquer forma a tal musica, se bem me recordo, tornou-se a musica oficial do grupo.

Este fato engraçado não foi o auge da noite como já adiantei. O consumo de cerveja leva a idas constantes ao banheiro. Larissa e Amanda se ausentaram da mesa com este fim. Ficamos eu e Talita sentados lá. Não lembro o assunto. Nem o porque dos movimentos bruscos das mãos daquela mulher. A única coisa que sei, e que recordo com uma certa raiva, é que seu braço atingiu violentamente a garrafa ao centro da mesa. Até aí tudo bem. Acidentes acontecem. Esse não era um acontecimento catastrófico que nossas possibilidades financeiras não pudessem arcar. Nossas condições financeiras permitiam que essa garrafa fosse derrubada. E, infelizmente, nossos laços de amizade permitiram com que eu fosse acusado da repentina queda da dita garrafa. Após o acidente, e ainda com as ausentes ausentes, espalhei uma série de guardanapos pela mesa. Não resolveram muita coisa. Bêbado tem umas ideias meio fora da realidade. Por isso comecei a secar a mesa com minha blusa. Acho que faltou pouco para que um de nós não lambesse a mesa. As ausentes retornaram e nos indagaram à respeito do que havia acontecido. Quando abri a boca para uma explicação fui interrompido por um olhar endemoniado da loura criminosa. Era um misto de olhos de criança arteira e político negando desvio de verga. “Foi o Paulo.” Não me importo de fazer as coisas erradas, as escolhas erradas e as manobras políticas erradas, mas ser acusado de uma proeza que não fiz foi encarado por mim como algo muito agressivo. Tão agressivo que as palavras faltaram no momento e minha resposta foi um abrir e fechar de boca com emissão de grunhidos, acompanhados de gesticulação intensa. O resultado? Para as ausentes agora presentes uma confissão de culpa. Pra loira criminosa a sagração de seu golpe contra minha imagem. E pra mim? Acho que foi o início das crises de pânico. Perdido ali, no meio de falsas acusações e da maquinação de uma mende demoníaca, estava só eu e minha consciência. Só me restava beber mais. E bebemos.

No fim das contas Talita assumiu que foi ela. As ausentes assumiram que não haviam acreditado que havia sido eu. E eu? Eu aprendi amigos agindo como seus piores inimigos é o sinal da verdadeira amizade, ou de sacanagem mesmo.